"Não há sentido para não pensar a longo prazo, salvo se você estiver morrendo.” Só recentemente ouvi essa frase, de autoria de um grande empreendedor americano chamado Gary Vaynerchuk. Apesar de tê-la achado um pouco exagerada – bem de acordo com o estilo do empresário, diga-se de passagem –, o conteúdo me chamou a atenção para o contexto dos concursos públicos.
Explico. Nós, brasileiros, em particular, somos bastante imediatistas. Queremos alcançar os nossos objetivos, concretizar os nossos sonhos e realizar os nossos projetos sempre em curtíssimo prazo. O mesmo se aplica ao concurseiro, que, salvo raras exceções, quer ser aprovado o quanto antes, a despeito do nível da concorrência e do grau de dificuldade do concurso que escolheu. Infelizmente, porém, na grande maioria das vezes a aprovação em concurso público requer um esforço de médio a longo prazo. E olhe que eu nem consideraria esse prazo muito longo, se comparado ao que demandam outras empreitadas e outros projetos significativos da vida. Já falamos sobre isso em artigos anteriores, mas vamos retomar o assunto e desenvolvê-lo com outros argumentos e mais algumas ideias.
Para começar, registre aí: é no longo prazo que desenhamos o nosso destino. Veja o caso dos empreendedores, por exemplo. Eles dificilmente conseguem firmar um produto ou uma marca em poucos meses. Na realidade, como já ouvi de alguns deles, muitas vezes são anos “vendendo o almoço para pagar o jantar”. É preciso ter perseverança, persistência… paciência de Jó. Há que abrir mão do convívio com a família e com os amigos; há que deixar de namorar, de viajar, de tirar férias. No mais das vezes, há mesmo é que aumentar a rotina de trabalho, chegando a 17, 18 horas por dia de muita tensão, que, aliás, precisa ser controlada para que o empresário resolva incontáveis problemas, conflitos e obstáculos que todos os dias tentam paralisá-lo ou até fazê-lo retroceder. Mas esse é o processo do sucesso, o preço a ser pago pela profissão que se abraçou.
Mesmo os empreendedores que optam por montar franquias precisam aguardar anos para terem retorno financeiro. E olhe que um franqueado precisa apenas copiar fielmente o projeto da empresa franqueada, que já foi amplamente testado, tendo reconhecidamente dado certo. Deve apenas fazer o aporte, dedicar-se profundamente e aguardar o tempo necessário para que o negócio comece a lhe retornar o investimento e, enfim, liberá-lo para o lazer, para a família, para as viagens, para algum descanso. Veja que nada é fácil, mesmo quando se aproveita o que já está pronto.
Não é diferente com os atletas. O argentino Lionel Messi, por exemplo, é um dos melhores atacantes em atividade do futebol mundial, dono de uma das maiores galerias de títulos do esporte. É inegavelmente um talento, um cara diferenciado pelas habilidades excepcionais que tem. Messi começou a treinar com rigor a partir dos 6 anos de idade, mas somente aos 17 se tornou o craque do Barcelona e principal responsável pelos títulos do time catalão. Quem conhece a história do jogador sabe que ele tinha tudo para dar errado devido a problemas hormonais que retardavam o desenvolvimento ósseo e, consequentemente, o seu crescimento. Em situações como a dele, sem desconsiderar a força do destino e a ajuda dos anjos, entram em ação o papel da família e o intenso trabalho que é preciso desenvolver para conquistar bons contratos e se destacar nesse mundo tão competitivo.
Os atletas olímpicos treinam no mínimo quatro anos para chegar às competições em condições de disputar as medalhas. São anos de muita privação, de sacrifícios, de lesões, de dor, de choro, de solidão. Atletas de alta performance se dedicam integralmente ao projeto de subir ao pódio e de conquistar o maior número de medalhas possível. Entretanto, não importam o elevado nível das orientações que recebem dos treinadores, nem os cuidados de que se cercam em relação à alimentação, nem, tampouco, toda a disciplina que desenvolvem para se manter firmes nos treinos: eles podem alcançar os resultados esperados ou não.
Desses heróis são exigidos talentos extraordinários, uma rigorosa rotina de treinos e muitos, muitos sacrifícios. E eles se submetem a tudo isso cientes de que o farão por muito tempo. Michael Phelps que o diga. O maior atleta olímpico de todos os tempos nunca perdeu um treino entre os 12 e os 18 anos. Note que o projeto dele de preparação de longo prazo beirava a obsessão, e é por isso que ele mostra aquele resultado incrível nas piscinas de todo o mundo.
Ora, se para todos esses seres humanos a recompensa só vem depois de muita preparação, por que com os concurseiros essa regra seria diferente? Precisamos entender que é no longo prazo que ganhamos robustez, moldamos a nossa vida e firmamos as nossas raízes no chão. Tudo para sustentar o sucesso que um dia conquistaremos e que será capaz de sobreviver a qualquer tempestade ou turbulência.
Hoje, a expectativa de vida é muito maior do que era 50 anos atrás. A média de longevidade, no Brasil, já está se aproximando dos 80 anos e deve aumentar ainda mais com os avanços da medicina. É possível viver uma vida plena mesmo na idade avançada, algo que há algumas décadas era impensável. Trabalhar, empreender e estudar com essa visão de longo prazo faz ainda mais sentido se considerarmos que o ser humano simplesmente vai viver muito mais, de modo que terá muito mais tempo para aproveitar o seu período na terra.
Então, tenha paciência, concurseiro. Sei que o caminho até a aprovação não é fácil, que em alguns momentos você pensará em desistir. Quando isso acontecer, será hora de se lembrar por que você iniciou esse projeto de mudança de vida. Para isso, sempre recomendo a tática da mentalização do sucesso. Mentalizar os seus sonhos sendo concretizados constantemente funciona como combustível para seguir adiante. Imagine como será a sua vida quando você já estiver exercendo a sua vocação como autoridade pública, podendo contar com um contracheque justo todos os meses, além de estabilidade e de melhores condições de vida para você e a sua família.
Bob Bowman, eterno técnico de Michael Phelps, costuma incentivar o atleta a visualizar na mente um filme de suas competições. Nas imagens projetadas, ele deve nadar do jeito que precisa para vencer. É orientado, ainda, a até mesmo sentir o cheiro do cloro da piscina. Essa projeção serve de gatilho para as horas de treinos exaustivos do nadador. Podemos adaptar tal ideia ao nosso contexto do concurso público. A técnica pode ajudar você, candidato, a estudar durante o tempo que for necessário, não importa o quão exaustivo seja, para a aprovação em um concurso de alto nível.
“Acredite no melhor… Tenha um objetivo para o melhor, nunca fique satisfeito com menos que o teu melhor, e no longo prazo as coisas correrão pelo melhor.” (Henry Ford)
Gabriel Granjeiro
FONTE: FOLHA DIRIGIDA
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